Por Heverson Castro
Em outros momentos da história política do Amapá houve uma forte polarização entre as forças políticas progressistas e de esquerda contra a elite político-empresarial que há oito anos arquitetou seu mega-projeto de poder de governar o Amapá sob a égide de uma “harmonia” entre os poderes republicanos. Essa estratégia teve a participação de inúmeras forças políticas conservadoras, que em 2002 elegeram Waldez Góes/Pedro Paulo para governar o Amapá.
A “harmonia”, essa forma criminosa de consórcio de partidos e lideranças políticas teve a sua gênese a partir de 2003, quando Waldez Góes tomou posse como governador do Amapá. Através de uma maioria esmagadora na Assembléia Legislativa, conseguiu manter a governabilidade e iniciar seu projeto de falência do Amapá.
Dentre os principais articuladores da “harmonia”, esteve Lucas Barreto (PTB), atual candidato ao governo, que na época fora presidente do poder legislativo. Hoje o assessor secreto de Sarney e candidato do empresariado local, tenta se colocar como alternativa de mudança ao povo do Amapá.
Lucas Barreto tem como vice, o empresário Jaime Nunes (PSDC), dono da Domestilar. Diante do debate para medir as diferenças de qual candidato representa “a verdadeira mudança”, setores que se reivindicam de esquerda e progressista, sejam partidos políticos, como o PSOL, seja lideranças eleitorais e intelectuais da academia tentam fazer uma defesa da aliança entre um político que tem uma trajetória construída na defesa de setores conservadores (Lucas) e o empresário, o bom burguês, o vice-governador que vai “ajudar” a impulsionar o “desenvolvimento econômico” do estado, iniciou-se um debate que deve ser levado em consideração.
Vamos analisar a história dos que hoje se colocam como mudança, fazendo uma análise da história política do Amapá, desde a primeira eleição direta para o governo do Amapá em 1990. Na época o PT encabeçou uma chapa de oposição contra o candidato que era ligado aos militares e as elites locais. Barcellos se elegeu em uma eleição acirrada, no segundo turno. Na mesma época foram eleitos os deputados constituintes, Lucas Barreto e outros estavam entre os legisladores que escreveriam a nova Constituição do Estado do Amapá.
Não vivi essa época, mas estudei e procurei me informar com pessoas que conhecem a história do Amapá, desde a redemocratização e a transformação do Território Federal em um Estado da Federação. E todos que viveram essa época, afirmam que Lucas Barreto fez parte do grupo que deu sustentação política ao ex-governador Barcellos. Ele fazia parte do “centrão”, uma espécie de agrupamento político de parlamentares, que pautava sua atuação no fisiologismo, afirmando a máxima de que “é dando que se recebe”.
Um político que foi 16 anos deputado estadual, que presidiu a AL, iniciando uma política perversa de colocar o poder legislativo estadual como um grande instrumento de usos político eleitoral, construindo uma verdadeira máquina política com poderes de barganha em troca de favores pessoais para diversos deputados.
Temos que lembrar que foi Lucas Barreto que aumentou o orçamento da AL, que hoje é maior que o arrecadado pela Prefeitura de Santana. O legislativo estadual não comporta um quadro de funcionários maior que o da PMS, tem apenas 24·deputados estaduais e o gasto é muito maior do que diversos municípios do Amapá reunidos. A pergunta é: “um político que foi 16 anos deputado e aumentou de forma exorbitante o orçamento da AL, tirando recursos de outras áreas sociais, pode representar a mudança”?”
Durante o processo eleitoral o Amapá foi palco de uma mega-operação da Polícia Federal, intitulada “Mãos Limpas”. A PF investigou os gastos excessivos e foi descoberta a existência de diversos funcionários fantasmas. Jorge Amanajás (PSDB) afirmou no debate da TV Amapá que até hoje o candidato Lucas Barreto tem funcionários nomeados, desde a época em que foi presidente da AL. Os “amigos” na verdade foram aliados políticos e ainda retribuem diversos favores utilizando a máquina da AL. Dizem as más línguas que até mesmo ex-deputados estaduais que se dizem de esquerda, também tem uma boquinha na AL.
Tal fato político só serve para comprovar que Lucas não rompeu o cordão umbilical com a “harmonia” e isso se confirma agora no 2º turno. Barreto tem o apoio incondicional do PDT, das famílias Borges e Alcolumbre (sustentáculo midiático da harmonia) e de diversos empresários, que enriqueceram rapidamente nos últimos oito anos, com isenções fiscais e até mesmo com sonegação de impostos e corrupção.
A façanha de colocar no mesmo palanque o senador tapetão Gilvam Borges (PMDB), Roberto Góes (PDT) e outros aliados de Sarney, atraindo para o seu lado setores que se intitulam “esquerda socialista” ou “nova esquerda” é um fato político que deve ser estudado pelos melhores cientistas políticos. Lucas tem o apoio incondicional da ampla maioria do PSOL, partido do senador eleito Randolfe Rodrigues, que em 2005 rompeu com o PT, alegando que iria construir uma nova alternativa de esquerda para o Amapá, já que o projeto petista teria falido.
Randolfe e o PSOL foram oposição ao governo Waldez Góes, mas o senador eleito nunca escondeu a sua relação política com Lucas. Em 2010 eles realizaram no 1º turno uma aliança branca, que foi repudiada pelo PSOL nacional e por diversos setores históricos do partido e da esquerda amapaense. O pragmatismo eleitoral, ora criticado por Randolfe quando realiza a ruptura com o PT, agora é feito com maior efervescência e maestria, que até mesmo Lula teria dificuldades de realizar.
O que não pode ser confundido nesse debate é o PSOL e Randolfe tentaram colocar nas mentes do povo que Lucas representa mudança. Como diz o nosso professor e historiador, isso seria “trair a história política do povo explorado e oprimido e da classe trabalhadora amapaense”. E é isso, que está acontecendo, Randolfe se deixa ser manipulado, quer ajudar a derrotar a Frente Popular para satisfazer seu ego, corporativismo e o projeto de seu partido, de ser a única alternativa de esquerda no Amapá.
O PSOL e Randolfe apóiam Lucas olhando para o futuro, pois têm ambição política de disputarem um cargo executivo, seja em 2012 ou em 2014. Para isso, eles precisam derrotar o PSB, o PT e os Capiberibes. Para isso, eles tentam ludibriar o povo, deixando que Lucas use Randolfe como “verniz”, para que seja colocado para a sociedade amapaense como um “político novo, moderno e de mudança”. Mas Randolfe e o PSOL conhecem a história de Lucas e não realizam ruptura por egocentrismo político e por uma espécie de canibalismo de esquerda, de tentar derrotar o único candidato realmente de oposição, Camilo Capiberibe, a verdadeira mudança encabeçado pela Frente Popular.
Randolfe e o PSOL avaliam que Jaime Nunes é um burguês bonzinho, que Lucas é a nova liderança trabalhista, onde os “neo-socialistas” poderão disputar politicamente um governo que pensam ser de coalizão, realizando o “entrismo” político, acumulando forças para serem a única referência de “esquerda” no Amapá. Mas eles sabem que é Sarney e os poderosos da “harmonia” que estão por trás de Lucas Barreto. Eles sabem que Lucas não é progressista, mas o ego e a vaidade são maiores, e é por isso que não apóiam a Frente Popular.
Randolfe e o PSOL passaram a fazer parte da pequena-burguesia amapaense, ainda há tempo deles se redimirem e ficar do lado do povo. Afinal, burguês é burguês, todos exploram o povo. Não existe burguesinho bom!
Mário de Andrade tem razão!
Heverson Castro é militante do PT